Quais os desafios que se colocam ao país quando abordamos o tema Energia, como poderemos gerir e rentabilizar os recursos disponíveis e qual o papel que as agências de energia podem assumir foram apenas algumas das questões abordadas durante o Encontro Nacional das Agências de Energia e Ambiente que se realizou no Fórum Cultural de Alcochete nos dias 5 e 6 de dezembro, organizado pela RNAE e pela S.ENERGIA. Cerca de 300 profissionais participaram neste Encontro encerrado pelo secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins.
“É importante aproveitarmos a partilha de boas experiências para disseminarmos as boas práticas no nosso país no que diz respeito ao funcionamento e ao papel central que as agências de energia podem ter pela sua proximidade aos territórios e aos próprios contextos onde as mudanças e as transições acabam por ganhar dimensão“, começou por referir o secretário de Estado do Ambiente que acredita que o ambiente e a energia são áreas que só podem trazer vantagens.
A encerrar os dois dias de trabalho, em que foram partilhados e apresentados vários projetos executados por agências de energia e não só, uma vez que também houve espaço para reflexões sobre cidades inteligentes e novos desafios que se avizinham com os novos contratos de gestão e o novo paradigma da gestão das redes de distribuição em baixa tensão, Carlos Martins centrou a sua intervenção em duas áreas-chave: habitação e transportes.
“A forma como concebemos as nossas redes de água internas, como gerimos os resíduos nas nossas cidades, como promovemos com maior ou menor dimensão a reciclagem são temáticas que acabam por estar muitas vezes ligadas ao primeiro momento de quem gere o território nesse processo tão simples, mas ao mesmo tempo tão vital para assegurar garantias de futuro, que é o processo de licenciamento de construção”, destacou Carlos Martins que referiu ainda que Portugal está prestes a entrar num novo ciclo de reabilitação urbana que tem que ter bem presente esta vertente da eficiência energética.
Sobre os transportes, Carlos Martins relembrou que esta semana foi apresentado o roteiro para a neutralidade carbónica 2050 que trará novos desafios para os Municípios que devem acompanhar estas leituras mais integradas do território e fomentar também esta mudança com renovação, por exemplo, das frotas municipais.
Estas preocupações foram também abordadas pela subdiretora-geral da Energia e Geologia, Maria José Espírito Santo, que durante a sessão de abertura, frisou a existência de um conjunto de dossiês que estão em discussão e nos quais as agências de energia terão um papel importante a assumir.
“As concessões de baixa tensão, o problema dos desafios que a própria mobilidade elétrica vai introduzir nas redes de baixa tensão, a questão do carregamento dos veículos e o eventual impacto que vai trazer na rede de distribuição são desafios para os quais estamos empenhados e reitero a disponibilidade total da Direção Geral de Energia e da tutela para que nos façam chegar as vossas preocupações de modo a que consigamos trabalhar em conjunto pois de 2021 até 2030 temos metas muito ambiciosas com a aplicação do Plano Nacional de Energia e Clima”, referiu.
Carlos Santos, o Presidente da RNAE, entidade organizadora deste Encontro Nacional, informou que cerca de 70% do território nacional já está coberto por agências de energia, havendo, no entanto trabalho a desenvolver com vista a abranger o país na sua totalidade e afirmou que a grande vantagem das agências de energia é o trabalho de proximidade que desenvolve junto dos seus beneficiários e que se torna fundamental para apoiar os municípios em tomadas de decisão ou na implementação de medidas que promovam a eficiência energética sem aumentar o investimento público.
O segundo dia do Encontro Nacional foi duplamente importante para a RNAE que assinou um protocolo de cooperação com a Grundfos Portugal, que viabilizará a promoção da eficiência energética em sistemas de bombagem de água no âmbito do programa Energy Check desenvolvido pela empresa dinamarquesa Grundfos.
Este momento foi formalizado pelo presidente da RNAE, Carlos Santos, pelo vice-presidente da RNAE, Diamantino Conceição, pelo representante da Grundfos Portugal, Bruno Carmo, e pelo embaixador da Dinamarca em Portugal, Lars Faaborg-Andersen.
O papel dos municípios na mudança de consciência energética
A importância dos Municípios na mudança de consciência quanto ao uso inteligente e racional da energia foi um dos alertas transversais nas várias intervenções que se fizeram ouvir ao longo destes dois dias. Por outro lado, esta sensibilização foi igualmente acompanhada pela constatação de que as agências de energia são parceiros fundamentais para as autarquias locais na dinamização de projetos de uso sustentável, assim como na sensibilização da população.
Neste sentido, e enquanto presidente da S.ENERGIA – Agência Regional de Energia para os concelhos do Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete, Miguel Canudo, recordou o percurso de apoio efetivo da S.ENERGIA “aos municípios na promoção de medidas de melhoria dos sistemas de climatização, iluminação interior, iluminação pública, promoção da produção local renovável e interações de sensibilização junto dos funcionários municipais, população, escolas, coletividades, IPSS’s, colaborando com estas instituições na promoção de melhores práticas”.
“Estou certo que por todas as agências o percurso é semelhante, porque sei que as Agências de Energia têm o bom hábito de colaborar regularmente na construção de projetos e candidaturas comuns, captando para os seus territórios financiamentos e competências que nos ajudam, dia a dia, a melhorar o modo como consumimos energia” acrescentou o presidente da S.ENERGIA.
Anfitrião deste Encontro, Alcochete é o concelho mais recente na S.ENERGIA uma vez que este ano voltou a integrar esta Agência, por decisão deste executivo municipal, uma medida que, de acordo com o Presidente da Câmara Municipal, é resultado da visão partilhada pelo executivo que lidera.
Para o autarca, que marcou presença também esta semana numa sessão pública sobre os riscos, impactes e vulnerabilidades no âmbito do Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas, não há dúvida que as autarquias locais, enquanto órgãos da administração pública mais próximos das populações, não podem estar à margem destes desafios.
“Ao poder local e aos decisores políticos é exigido que promovam a eficiência energética, o aproveitamento dos recursos endógenos renováveis e a utilização racional de energia contribuindo para uma gestão energético-ambiental sustentável do território de forma a satisfazer as necessidades de interesse geral”, salientou Fernando Pinto que, neste sentido, referiu o papel das Agências de Energia e Ambiente “como parte integrante das estratégias municipais”.
Para além dos painéis de intervenção decorreu em simultâneo no Encontro Nacional das Agências de Energia e Ambiente uma mostra expositiva de tecnologias e atividades empresariais com presença de entidades como a EDP Comercial, Engie Portugal, Qart, Soneres, Biohot, Carrier, GoParity / Ponto Energia, Amarsul, Simarsul, InnoEnergy, DECO, Helexia, Comissão Europeia, ADENE, Openplus, Weeecycle, Ecokart Portugal e a Loja da Poupança Energética de Seia. No exterior do Fórum Cultural estiveram em exposição e test-drive algumas viaturas híbridas e elétricas das marcas Toyota, Lexus, Renault, Nissan, Kia e Hyundai.